Ela é casada e tem três filhos. Estava acostumada apenas a participar das atividades na igreja mas a vontade de ajudar outras pessoas sempre foi enorme em seu coração. Por isso, há oito anos ela buscava oferecer cestas básicas, remédios e roupas, principalmente para pessoas em situação de rua nas imediações onde morava, no Jardim Elizabeth, e no Jardim Pajussara. Ela é Janny Porto Oliveira, de 44 anos.
Há pouco mais de um ano, ela foi em busca de uma cesta básica para entregar para uma pessoa em situação de rua no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Jardim São João. Ela encontrou muito mais: conhecimento, técnica e solidariedade. Com a orientação da coordenadora do serviço, Marineusa Rocha, Janny descobriu que o CRAS é a porta aberta para uma vida digna para quem atravessa a vulnerabilidade social. E ela se tornou uma conselheira gestora do serviço na primeira eleição realizada pela Prefeitura de Mauá, em junho de 2024. Foram 125 candidatos inscritos nas 11 unidades de assistência social do município, que são oito CRAS, dois Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Foram eleitos representantes de três segmentos: usuários, trabalhadores e entidades ou organizações sociais. Janny foi eleita pelo segmento Usuário, a partir da seguinte frase: “Eu quero a oportunidade para ser ponte para ajudar vocês a conquistar direitos que não conhecem e trazer para o CRAS as demandas dos bairros.
Depois disso, foi só aprendizado. Ela passou a entender o que é a ‘Busca Ativa’- quando o serviço vai atrás da pessoa que precisa do atendimento, território - área de abrangência de cada CRAS -, e como é possível obter informações sobre direitos e obrigações de cada cidadão e cidadã. Foi quando ganhou um colete da coordenadora dos CRAS, Monica Célia, e Janny passou a ser conhecida na sua região como a moça do CRAS. “Eu faço questão de deixar cristalino que sou voluntária”, destaca Janny, “o problema da pessoa é um, do vizinho é outro”, explica que é necessário diferenciar. Ela acredita que o grande problema que enfrenta é a falta de conhecimento das pessoas e que gera atraso no atendimento. “O CRAS tem mais credibilidade porque as pessoas passaram a entender melhor suas funções”, avalia Janny.
“Me capacita, Senhor”, disse. Um exemplo dos desafios superados foi no caso de uma família do Jardim Pajussara. O ex-marido da mulher jogou fora seus documentos pessoais e as certidões de nascimento dos três filhos foram estragadas em uma enchente. Por isso, era difícil atendimento de saúde para todos e ela ficava impedida de arrumar emprego. Em uma semana foi tudo resolvido apenas indo ao CRAS. Outra história é a da participação na etapa estadual da Conferência, em que respondeu calmamente, e foi aprovada, pela defesa da criação de um CRAS Itinerante, enquanto era contestada aos gritos. “Mauá não é menos importante que outros municípios”, afirmou explicando que é preciso respeitar a opinião de quem usa o serviço.
“A Janny é a voz da comunidade e vai representar Mauá com na 14ª Conferência Nacional de Assistência Social, de 6 a 9 de dezembro em Brasília, com muita qualidade. Estamos orgulhosos da sua história e contribuição”, afirmou a secretária de Assistência Social, Fernanda Oliveira.
“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o Bolsa Família não é renda. É um socorro temporário, um benefício. É o emprego que traz a dignidade”, disse. Toda esta dedicação tem uma razão de ser para Janny. Ela traz a história de uma mãe muito doente, que resultava em ter que ficar revezando permanecer na casa dos vizinhos desde muito pequena. “Não carrego isso como peso, mas como conscientização”, afirma.
Sim, é sobre saber se colocar no lugar das outras pessoas. “Melhorei como pessoa, cresci intelectualmente e posso ajudar as pessoas de forma mais qualificada”, acredita. “Mauá é enorme. Pequena é a nossa mente. Eu estava procurando alguma coisa, sabia que existia. Com o Conselho Gestor eu descobri o que era e o resultado é bom, muito precioso!”, avalia Janny. Ah! Enquanto ela vai para Brasília defender as propostas apresentadas pelo estado de São Paulo e por Mauá, o marido cuida das crianças. Ele é um grande parceiro dos sonhos de Janny, o de fazer uma cidade cada vez melhor.
